quinta-feira, 14 de abril de 2011

Cuidado com o Joãozinho

Em 07 de fevereiro de 2007 uma cena trivial e extremamente banal se desenrola na cidade do Rio de Janeiro, um roubo de carro. Mas desta vez surge um terrível agravante. O menino João Hélio, de apenas seis anos, não tem tempo de se desvencilhar do cinto de segurança e é arrastado por quilômetros. Uma brutalidade! A sociedade se mostra indignada, jornais são vendidos aos milhares sob a manchete do caso, lágrimas são derramadas, há discussão, comoção, mas o tempo passa. O alarido se silencia, a lembrança fica mais distante, as emoções são anestesiadas e infelizmente o que resta para a grande maioria é simplesmente mais um número na estatística, é apenas mais um "joão".

Em julho de 2008, num cenário parecido, mais um caso banal de roubo de carro, o menino João Roberto é baleado numa desastrosa ação de policiais militares. Para alguns, uma fatalidade. Para outros uma baixa aceitável, se não declarada, pelo menos assimilada, por uma população que já se acostumou a dizer que vive em meio à guerra. Mais uma vez lágrimas são derramadas, a sociedade clama por paz, há a empatia de milhares de mães e pais com a família que sofreu a terrível perda de uma criança de 04 anos. Mas de novo o tempo parece ser implacável em fazer sentimentos serem anestesiados e silenciar a multidão. E o que fica é apenas mais um "joão", uma ausência muitíssimo presente para sua família, porém uma lembrança bastante remota para a família carioca.


Nos últimos quase três anos não há dúvida de que outros "joãos" foram contados nessa nefasta estatística da violência. E que mesmo sem dispor da comoção de toda a sociedade, deixaram famílias de luto. "Joãozinhos", que mesmo sem terem o nome de João se enquadravam nessa designação que há muito já foi sinônimo de criança. Mas cada uma dessas crianças é apenas mais um "joão", sem rosto, sem voz, sem cor e depois sem lembrança. Só informação, um número, um dado, uma evidência de uma realidade tão triste e que tem sido agravada pela insensibilidade.


Na quinta-feira do dia 07 de abril de 2011 os nomes dos "joãozinhos" eram: Ana Carolina; Bianca; Géssica; Igor; Karine; Larissa; Laryssa; Luiza; Mariana; Milena; Rafael e Samira. Estavam no lugar onde todo Joãozinho deve estar, na escola. Na verdade era lá que eles sempre estavam quando uma piada era contada, ou uma travessura era narrada. Mas dessa vez não teve graça, o riso ficou de longe e mais terrível ainda será deixar o tempo passar sem haver mudança e nem lembrança.


O Apóstolo João, um nobilíssimo representante desse significativo nome, nos ensina: "Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade" (Primeira Epistola de João, capítulo 3, verso 18). É certo que estamos todos de luto. É tempo de sentir, de lamentar e chorar. Porém não podemos deixar que tudo se resuma apenas a isto. Não é possível nos contentarmos somente com discursos, bravatas, venda de jornais e comoção passageira. O conselho apostólico é para que movidos pelo sentimento verdadeiro, o amor, tão escasso nesses dias, transformemos as nossas declarações em atitude.


Cada um de nós tem algo a fazer em uma ou mais esferas de atuação, amar de "fato e de verdade" é assumir a responsabilidade de fazer o que está ao nosso alcance e contribuir para a construção de uma realidade melhor. Seja como cidadão, pai, amigo, professor, formador de opinião, ou cristão, não podemos deixar que "joãozinho" algum seja reduzido a uma lembrança desbotada e distante. Vamos nos empenhar em desmontar essa linha de produção de lápides precoces que todos os dias vêm grafadas de mais um "João", ou de milhares de pequeninos que simplesmente crescem para ser um "João Ninguém".


Toda criança precisa dos meios e oportunidades de crescer e ser um "João Alguém". Cada uma delas deve ser vista como um verdadeiro "João de Deus" em potencial, com aptidão para construir, realizar, amar e viver para a glória de Deus em conformidade com o Evangelho de Cristo Jesus. Pois Ele mesmo foi salvo do infanticídio e pôde crescer em estatura e graça. Por isso não podemos esquecer de como os nossos pequeninos são importantes e de como eles têm se tornado vítimas dessa sociedade caótica, violenta e insensível. Ao contrário, que todos possamos cuidar muito bem de cada "joãozinho" que cruza o nosso caminho.


Vinck Vitório

















2 comentários:

  1. Reflexão muito oportuna Reverendo.
    Amar não apenas de palavras, como nos exortou o amável apóstolo João, é um mandamento confrontador.

    Gostaria de sua permissão para compartilhar esse texto com os leitores do Blog da EBD de minha igreja.

    Abraços,
    Igor

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  2. Comentário feito por Lenilsen Nascimento:

    As pessoas estão endurecendo, pois as notícias são sempre as mesmas... O medo tomou conta, silenciar é salvar a própria "pele", deixar do jeito que está é mais "cômodo", lutar por "essa gente", pra quê? Nada disso vai mudar! Ah, como já vi e ouvi essas coisas!!!

    E nós, "IGREJA", onde estamos? O que fazemos? Qual o nosso diferencial? Será que temos feito do nosso local de trabalho, da condução que pegamos, da nossa ida ao médico, ao mercado... o nosso "CAMPO MISSIONÁRIO"?
    A bíblia nos ensina...
    "E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus." (Romanos 12:2)

    Que o Senhor amacie nosso entendimento, retirando todo o endurecimento que satanás tem usado para nos fazer esquecer que somos imagem e semelhança do nosso Deus e que nascemos para o louvor da Glória d'Ele. E que fazendo assim, abra os nossos olhos e ouvidos para o clamor dos desesperados e a nossa boca para levar as boas novas de salvação.
    "Prepara-te Israel, para encontrares com teu Deus."

    27 de abril de 2011 22:14

    Fonte: http://ebdipcj.blogspot.com/2011/04/cuidado-com-o-joazinho.html

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