quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Suicídio: prevenir, alentar, mas nunca julgar.

Todo mês é Setembro Amarelo. Todo dia é Dia D. E o dia de ontem, 10 de setembro, data marcada como o dia D de prevenção ao suicídio, foi um dia de reflexão. A data surgiu há 25 anos. A cor da campanha foi adotada por conta da trágica história de Mike Emme, um jovem americano, de 17 anos que, em 1994, tirou a própria vida dirigindo seu carro amarelo. Seus amigos e familiares distribuíram no funeral cartões com fitas amarelas e mensagens de apoio para pessoas que estivessem passando pelo mesmo desespero. A fita amarela virou símbolo do dever de conscientização, de todo mundo, sobre o tema.
Como protestante, esse assunto tem me causado bastante preocupação acerca de como igrejas, líderes e fiéis cristãos têm tratado a questão. A crença medieval de que o suicida vai para o inferno parece prevalecer entre os crentes atuais, ainda que com uma boa dose de atenuantes e relativizações, a grosso modo continuasse a sentenciar os suicidas ao inferno. O que é um crasso erro.
Em primeiro lugar é preciso lembrar que a fé reformada (advinda da Reforma do século XVI) e bíblica não admite especulação alguma acerca de quem é salvo ou condenado. Uma vez que há apenas um único e justo juiz capaz de sondar mentes e corações, é da exclusiva economia Dele dar sentenças. E ainda que nos baseemos em evidências, nem a Igreja, nem suas lideranças têm competência para emitir certificados de salvação ou condenação.
Mesmo que a Bíblia nos lembre que o pecador contumaz tem como destino eterno o inferno, não há nenhuma afirmação categórica no texto bíblico de que o suicida seja condenado. Necessário ainda é considerar que Deus não depende da Igreja, dos fiéis e muito menos de evidências para salvar. Ainda que na sua imensa misericórdia Ele se utilize de homens e da Igreja é mais uma vez da competência exclusiva Dele, de acordo com a sua vontade soberana, usar de meios extraordinários para comunicar irresistivelmente o Evangelho da salvação ao coração daqueles a quem quer salvar. Deus não tem limites para salvar, mesmo o suicida. Louvado seja Deus!!!!
Aos insistentes, que desejem, ainda com suas relativizações e uso de inferências, condenar o suicida. Eu alerto: cuidado, você está mandando Sansão, um herói da fé, para o inferno! 
Outro ponto muito polêmico, mas que não provoca demérito algum à fé ou ao Evangelho e que todo cristão sincero deve ponderar com maturidade, está na seguinte questão: não teria sido o calvário também um suicídio? Antes que você se escandalize, lembremos que o Deus encarnado anunciou por várias vezes a via dolorosa sem jamais se desviar dela, tinha o poder para evitá-la e até descer do madeiro, e afirmou de forma contundente acerca de sua vida: "ninguém a tira de mim, mas eu a dou por minha espontânea vontade" (João 10:18). Essa verdade em nada desmerece a fé, ao contrário, nos lembra que em toda as fraquezas da nossa humanidade podemos encontrar identidade com o Cristo.
Recentemente um crente sincero ponderava comigo sobre essas verdades, mas concluiu com a seguinte afirmação: "se dissermos que o suicida não perde salvação vamos abrir a porta para muitos mais suicídios". Ledo engano, as portas já estão abertas! E fica ainda muito pior para a família do que partiu pregarmos que esse está condenado.
Ao invés de darmos sentenças, precisamos é prevenir, acolher e envidar todos os esforços para evitar o suicídio. Acreditar que a sentença evita é cômodo, mas ser literalmente a voz que clama no deserto anunciando o ministério de Cristo é a nossa verdadeira vocação enquanto Igreja. Cristo é esperança sempre!!!
Talvez você não tenha dimensão do desafio que está a nossa frente.  Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), nove em cada dez mortes por suicídio poderiam ser evitadas. O suicídio é a segunda maior causa de mortes de jovens entre 15 a 24 anos, segundo pesquisa do CVV (Centro de Valorização à Vida). Só perde para acidentes.
O primeiro passo para prevenir o suicídio é conversar.  Não há certo ou errado ao conversar sobre pensamentos suicidas, o importante é começar a conversa, diz à BBC Emma Carrington, porta-voz da entidade de combate à doenças mentais Rethink UK. “Em primeiro lugar é preciso reconhecer que é uma conversa difícil. Não é uma conversa que temos todos os dias. Então, você vai ficar nervoso e isso é normal. O importante é ouvir e não julgar.” 
 Conversar sobre suicídio é quebrar um tabu. Para a organização australiana Beyond Blue, da ex-primeira-ministra Julia Gillard, ter a liberdade de conversar sobre o assunto pode ajudar a restaurar a esperança das pessoas que estão tendo pensamentos suicidas. “Você não precisa ser um profissional de saúde para apoiar alguém que está em risco. Só precisa ser alguém que está preparado para ter a conversa”, diz Gillard, da Beyond Blue.
Depois da conversa, o ideal é encaminhar e encorajar a pessoa a procurar ajuda profissional, com medicamentos e acompanhamento. A maioria dos casos vem de quedas ou desequilíbrio na saúde mental do indivíduo, tão importante quanto a saúde física. Cuidar, prevenir e agir para o equilíbrio da saúde mental, evitando emoções negativas como ansiedade ou descontrole e doenças como depressão, é fundamental para valorizar a vida.
Tenho certeza que não há coisa alguma mais eficiente diante dessa demanda do que o amor cristão. Então se disponha, ouça, de amparo, estimule e motive.
Seja feliz e promova felicidade.
Vinck Vitório            

4 comentários:

  1. Muito boa a postagem, e lembrando a grande maioria dos suicídas na se encontram em seu estado de normalidade emocional, para tanto fora do centro da razão, e sem condições de tomar uma decisão acertada e saudável desta decisão social. Fatimo Jr.

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  2. Excelente reflexão, que venhamos acolher aos que necessitam de ajuda, pois só alguém muito desesperado tira sua própria vida.

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  3. Excelente explanação!! Acho que o problema maior em tudo isso é o julgamento. Quem somos nós prá julgar?? E a referência a Sansão foi muito oportuna! Deus continue abençoando sua vida Vitório!!

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